27 novembro 2011

FUTEBOL EMBANANADO

Entra jogo, sai jogo, e o futebol nacional na mesmice. Futebol que está longe de adquirir traços evolutivos, longe de possuir equipes-jogadores cativantes, estimulantes, criativos e organizados. E muito mais longe, ficamos nós treinadores, com vontade de assistirmos com freqüência-idolátrica os jogos em “nossa terra indigesta”.
Enxergamos com preeminência “vícios caricatos e insuperáveis” seja em termos de treino ou de jogo, os quais levam consigo uma “pseudo-cultura grotesca e desorientada” a léguas distante da CULTURA FUTEBOLÍSTICA NACIONAL DE RAIZ. Essa tendência afasta definitivamente um progresso que contenha traços evolutivos globalizados, sem desvirtuar a nossa identidade brasileira, que é uma lásmita, um horror. Temos vergonha!
Contribuindo para essa “cultura maligna”, avistamos as famosas verdades insuperáveis defendias pelos analfa-especialistas de plantão (semi-analfabetos analistas de melhores lances) e as verdades mentirosas das máquinas físicas movidas pela “gasolina importada ultrapassada”. Verdades que na verdade são mentiras escondidas atrás do desentendimento da natureza humana-complexa do jogo-equipe-jogador, arrastando consigo uma modelação inábil de treinadores, jogadores, dirigentes, empresários, torcedores e outros.
Como de costume, é necessário fazer uma reflexão-situacional-macro para chegarmos aos pormenores do texto. Então, escrevemos esta CHARLA após uma leitura das colunas de Tostão e Ramon Besa, e a visualização de escopos interessantes retirados de seus textos para debatermos, vejam só:

“A razão principal de tantos excepcionais armadores na Espanha, especialmente no Barcelona, é a prioridade dada à troca de passes, à habilidade e à criatividade nesse setor. Para isso, é preciso recuperar a bola. Todos aprendem a marcar. Se, no Brasil, colocarem Ganso, Douglas e outros meias talentosos para fazer o mesmo, a maioria vai dizer, após a primeira derrota, que é um desperdício .” Tostão.

“Hubo un tiempo en que encontró acomodo como falso extremo, preferentemente zurdo, por la abundancia de medios y la falta de delanteros en el Barcelona. Y, aunque siempre aseguró que era volante, defendió el puesto en la banda con tanta profesionalidad como talento. Hasta que finalmente consiguió la plaza de interior izquierdo o, a veces, de enganche por la que siempre se había desvivido. Excelente en el uno contra uno por la facilidad con la que se maneja con el balón, no solo regatea, sino que también se distingue por los pases filtrados y su capacidad para combinar”. Ramon Besa.

Espanha, Barcelona, entendimento global do jogo, defender e atacar como um momento só, trans-funcionalidade posicional, talento, criatividade, manejo da bola, passes... Palavras retiradas dos textos?! Palavras que podem dar vida e polemizar algumas questões?! Questões formidáveis para alguns, e extremamente negligenciadas por outros. Questões que acontecem no antes, no agora e no depois. Questões reflexo de um reflexo. Questões intimamente ligadas á complexidade do todo. Questões que iniciam no início. Início????
É, o início no futebol está lá embaixo, na formação, nos primeiros meses e anos nos clubes, e sem dúvida alguma essa questão é a “chave sem saber qual a porta”, da míngua de jogadores, equipes e seleções deste território. Pobre território brasileiro. Não sabemos se rimos ou se choramos (de amor ou de ódio).
E como perversos brasileiros, começamos o primeiro dos incalculáveis pecados! Achamos que o processo de formação se reduz em parâmetros físicos únicos para posições, e que os as crianças, por exemplo, devem de correr, crescer para cima, para os lados e livrar-se da bola (o pé queima mais que o sol do meio dia) dando chutões, igual há um “Punter” do futebol americano.
Definitivamente não temos critério, ou melhor, temos, mas são apenas físicos. Essa tendência é o passaporte único para possíveis potenciais talentos entrarem, treinarem e se formarem em nossos clubes. 
Está aí, descaradamente (para quem quer ver ou fingir em não ver), o pecado número 1 do futebol brasileiro. O primeiro tijolo da construção da nossa casa pecadora de um futebol embananado.

 
 Futebol embananado? Entendemos o porquê:
- Ainda estamos estagnados na mente cartesiana;
- Nosso pensamento é muito imediatista e estreito;
- Começamos o processo de seleção de jogadores com as tais "peneiras" e os tais dos "coletivos", utilizando critérios extremamente físico-posicionais; (vemos isso no futebol profissional, que por sinal nos deixa com asco);
- Engordamos nossos jogadores nos clubes, já nas pequenas idades, com estímulos estritamente posicionais, rígidos e físicos (para variar);
- Não conseguimos ter a perspicácia de conversar com o jogador, entender suas preferências e deixar possibilidades de vivenciar outras posições;
- Não entendemos o jogo, como um todo fluido, coberto de ações ofensivas-defensivas e transitórias;
- Não trabalhamos "os pés" do goleiro e os princípios de organização defensiva em nossos atacantes e médios;
- Não formamos jogadores conhecedores da natureza do jogo e da compreensão do jogo. Formamos executantes apenas;
- Não estruturamos o processo de formação com objetivos evolutivos em todas as categorias. Na grande maioria dos clubes temos exercícios e conteúdos, quase os mesmos para todas as idades. Isso não pode mais acontecer;
- Os exercícios são extremamente rígidos e fogem da essência do jogo;
Acho que isto é suficiente para compreendermos o porquê do embananado!
Ao futebol nacional falta perceber o conceito de crescimento-complexo-interligado. Na medida em que supostamente situações aparecem, vemos que o crescimento da tríade jogo-futebol-jogador é apenas físico.
No que diz respeito à compreensão de jogo e a trans-funcionalidade posicional (domínios de outros espaços), saber o que fazer em todos os momentos do jogo, refinamento técnico contextualizado (por incrível que pareça) e criatividade contextualizada, temos uma carência notória.
Não formamos equipes-jogadores que entendam o jogo como um todo composto por ações-interligadas.
É um futebol poluído por métodos banais, e pela visão burlada de que não podemos modificar para o novo sem desvirtuar com a nossa REAL CULTURA. Será que não percebemos que essa cultura atual está mais para “POSTIÇA-ULTRAPASSADA”?!  
A nossa cultura está embananada!
Todos sabem que a mudança é necessária. Mas ninguém fala do real problema. Isso que estamos no primeiro pecado e com toda certeza existem muitos. Quais serão os outros?

Abraços

Rodrigo e Dênis

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