22 janeiro 2012

TRAÇOS DA (DE)FORMAÇÃO DO JOGADOR DE FUTEBOL BRASILEIRO: COMO SUPERÁ - LAS?

Nos “Primórdios do Futebol Brasileiro”, a formação do jogador era exclusivamente realizada pela “informalidade fértil da rua”. Época identificada como “Formação Silvestre”.
Na Formação Silvestre, jogadores voluntariamente e emocionalmente, envolviam-se “jogando” de diferentes maneiras. A ação do jogar-superar com emotividade deixava marcas positivas e às vezes negativo-positivas, amadurecendo diariamente seus engramas. Cotidianamente, por muitas horas, submetiam-se a situações-problemas mutáveis e libertas. Nestas atividades, além do acervo individual, compreendiam valores morais, auto-organizavam-se, cooperavam reciprocamente e aprendiam conceitos coletivos, claro, dentro de uma informalidade estrutural (até mesmo pela demanda que o futebol requeria na época), mas com muitos aspectos interessantes para o “bom futebol” e para serem utilizados atualmente. Craques “brotavam” nos jogos de diferentes formatos, terrenos e espaços a todo instante. Absolutamente; a formação silvestre foi o maior canteiro de formação de jogadores brasileiros.


O odiado e amado “El Loco Bielsa”, um dos treinadores mais estudiosos do planeta, esteve abordando há alguns dias atrás, algumas questões pertinentes sobre essa temática, vejam só:


“La formación silvestre es la mejor de todas. No tiene rigidez y los jóvenes la ejecutan espontáneamente. Pero eso ha dejado de ser posible porque para que la formación silvestre se concrete hay que disponer de cinco horas diarias libres durante un plazo de entre cuatro y seis años. Hay continentes que siguen dando futbolistas porque se produce lo que hace falta: lugar, tiempo y amor por el juego. Porque si un joven tiene que ir a computación, inglés, música... Seguro que no va a jugar cinco horas diarias al fútbol. Si vive en una ciudad tampoco va a encontrar el lugar.
 
“El Loco Bielsa” deixa claro que está cada vez mais escassa a formação silvestre. Mas, será que ainda vemos o futebol silvestre por aí? A resposta para essa pergunta está cada dia mais clara.
Quem sabe aqui no Interior de Santa Catarina ou de outros estados, e muito pouco (não todo dia) e por muito pouco (poucas horas durante o dia) o futebol silvestre esteja sobrevivendo, mais pensamos que “o corpo” sobrevivente do futebol silvestre esteja já numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de algum hospital pequenino e com pouquíssimo tempo de vida. Está morrendo infelizmente.. O crescimento urbano-social, a acessibilidade e opção demasiada por outras “atividades”, excepcionalmente distanciou as crianças da essência formativa refinada do jogador de futebol.

Bem amigos da “Rede Brasil”, como suprir essa carência? Como o jogador brasileiro está nos últimos anos, meses, dias e horas, sendo formando?
Sendo formando? Será que sabe-se o que é formação de jogadores de futebol? As evidencias aí estão: formando-se muito pouco, mas (De)Formando-se muito.

Tal (De)Formação está balizada por alguns modelos. Modelos esses que metaforicamente podem ser entendidos abaixo.
Vejam só:
“Já que o contato com o mundo silvestre não existe mais, os jogadores nos últimos anos já nascem prontos, vindo com um DNA dos antigos craques” Padeiro da Esquina. (Formação Dna)

 
“A formação dos jogadores de futebol deve acompanhar o conhecimento cientifico “entre paredes”. Deve ser feito “milhares de baterias de testes” toda semana, e o treino será sempre em campo sintético dentro do laboratório, mantendo-os conectados com um fio aos computadores. ”Cientista, um tanto quando tomado (um porre) de misturas alucinógenas. (Formação no Laboratório)
“O jogador de futebol deve ser formado na minha escolinha. Eu fui ex-jogador e vivenciei o mundo competitivo por anos. Tudo o que fiz com meus treinadores vou transmitir aos jogadores. Vamos fazer muito trabalho de fundamento, de chute pro gol e coletivo, vamos aprender a bater na bola, vamos formar futuros campeões”. Ex-Boleiro (Formação de Robozinhos Brasileiros nas Jaulas das Escolinhas).

“Esse jogador joga sozinho, os treinos são especialmente para ele fazer malabarismos com a bola em cima dos outros. A equipe é ele. É craque.” Treinador escravo de um jogador. (Formação do Brasileiríssimo individual nas Jaulas das Escolinhas).

E essas são algumas maneiras de formar jogadores no Brasil, que quase todos usam. Quase todos? É, quase todos, pois ainda há os “muito poucos” que estão buscando insights no horizonte. Essa parcela mínima de “visionários profissionais” percebeu uma tríade dimensional que pode modificar essa situação alarmante. Tal tríade pode ser classificada como formação silvestre-organizada-cultural, e entendida dentro de uma lógica conceptual do conceito “formar”. Percebam:
O que é formar? O que requer a formação do jogador de futebol atualmente? Será que conseguimos interligar as três dimensões inerentes ao formar? Conseguimos realizar o tranfer da formação do jogador de futebol por essas três dimensões? Vizualizem: 


Autoformação - é a dimensão individual
Se a formação silvestre foi a melhor de todos os tempos (pois os jogadores se desafiavam e jogavam constantemente), por que não bebermos do acervo de possibilidades que ela no dispõem?. A formação individual é um ato de constante modificação, constante estimulação. Somente atividades libertas e com uma variabilidade de ação poderá atingir a dimensão individual em sua plenitude. Então a autoformação nas primeiras idades, deve estar balizada por uma gama de atividades advindas da formação silvestre, evidente, balizada por idéias organizadas, mas sempre respeitando a natureza do jogo, da criança e a sua auto-superação constante.
 

Heteroformação - interatividade – noção de coletividade
Um jogador de futebol, antes de estar numa lógica coletiva de organização de uma forma de jogar específica, é um ser individual. Mas um ser individual isolado, sem interagir com outros seres e elementos, viverá em uma ilha e certamente não conseguirá entender a natureza deste desporto. Se os estímulos individuais são necessários, o entendimento do jogo coletivo com estímulos gerados pelo treinador, respeitando essa individualidade, especialmente nas primeiras idades é uma tarefa imprescindível, mas também desafiadora. Essa interação requer uma enorme sensibilidade de “saber que ferramentas utilizar”, pois qualquer situação em demasia pode gerar reflexos ou distúrbios. A chave é equilibrar com sensibilidade, pois uma lógica desde as primeiras idades deve existir para o trabalho não ficar “no vácuo”, e até mesmo pela demanda que o futebol atual e as modificações sociais exigem.
 

Ecoformação – relação cultural
Em qualquer cidade, região ou país que estamos inseridos, recebemos estímulos culturais que nos identificam, seja na forma como falamos, nos comportamos ou jogamos. E se nosso objetivo é o jogar, temos que ter essa sensibilidade de estar respeitando as raízes que estamos inseridos. E isso, já no que diz respeito “de como jogamos no Brasil”, mata a charada, pois quase todos perderam o mapa do Brasil em termos de jogo. Como jogamos? Ninguém sabe!
A formação silvestre-organizada-cultural tem “entrelaçado” todos esses parâmetros para construir futuros jogadores. Jogadores que mantenham sua singularidade, se relacionem muito com a bola, respondam aos problemas do jogo com criatividade, tenham um refinamento técnico apurado e sejam representantes da verdadeira cultura brasileira. Que na atualidade, de verdadeira...
E aos adeptos da (De)Formação, e do futebol cicatrizado e sedado, urre com urgência a adequação e aceitação da formação silvestre-aberta-organizada, antes que os “robô-leiros” comecem a atacar, defender e transitar, mas o que é isso mesmo?
Mas que modelo de formação maluco esse que tem três dimensões juntas; em meu cérebro está faltando "graxa" para entender isso! (Alegação dos estacionados no Posto do conhecimento imutável).

Abraços
Rodrigo Vicenzi; Dênis Greboggy

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