26 abril 2012

CONTROLAR O CONTROLE

Para jogar futebol, é imperativo o domínio espaço temporal, e necessário vasto repertório cognitvo e motor dentro de um contexto recheado de ações incontroláveis e que necessitam ser controladas. Para jogar um determinado futebol, é necessário buscar constantes regularidades e um controle contextual do que possa acontecer no jogo sem estereotipar ações. Bom que assim fosse!
Amigos leitores, temos percebido que a maioria dos treinadores (de várias partes do mundo, mas aqui no Brasil a quantidade é maior), querem programar e controlar todos os detalhes do jogo mecanicamente. Para esses, tal controle resume-se em mecanizar ações feitas “cilindricamente” em uma única direção, tempo e espaço sem compreensão contextual. Tais ações são conhecidas como “sinal fechado então só dobramos para aquele lado”.
Essa situação nos faz pensar: quem treina apenas para controlar em uma única direção não acaba sendo controlado? E assistindo muitos jogos percebemos isso... e jogos recentes nos demonstram indícios frescos e evidentes do falso controle robótico...
Para nós, o controle não é mecânico, mas sim dinâmico-contextual, e requer variabilidade em várias direções. Neste sentido, a variabilidade deve ser uma característica inerente de qualquer equipe de futebol. Treinar sobre esse viés, permite que hajam equipes autônomas e repletas de ações controladas (controladas no sentido de resolução rápida e alternativa) pela imprevisibilidade do jogo. Isto é o gostoso do futebol: treinar para o imprevisto, buscar regularidades que sejam constantes, mas que sejam abertas e contextuais aos problemas que vão surgindo minuto há minuto no jogo, mas mantendo certa identidade para que outras sejam criadas. Caso contrário, se a equipe ficar robótica ou mudar constantemente "sem ter matriz e aquisição", torna-se “indigente da bola”, vagando de campo em campo "sem saber onde está e o que faz". 
Pessoas, o futebol não possui um número X de ações de tal forma que o piloto automático controle todos os passos das tomadas de decisões, e que meros 60 jogos de uma temporada de tal equipe condicione exatamente o que qualquer expectador gostaria de assistir. Não teria graça se assim fosse, mesmo que quase todos queiram, principalmente os treinadores robóticos. Mecanizar ações é uma completa bobagem. Mesmo que possa existir uma filosofia, a flexibilidade também deve andar junto, para que o jogo possa ser controlado.
Em muitas equipes, não há variabilidade, motivação, surpresa, arrojo, enfim, sempre treinam, e sabem desde o primeiro dia até o último dia da temporada o que irá acontecer acontecer, sempre da mesma forma, e no final não se compreende nada, e o futebol empobrece. Pessoas, lembremos, ações cerradas e controladas igual máquinas, sem a intencionalidade prévia, desvirtuam totalmente o contexto do jogo de futebol. E isto nos leva a questionar: treinar exaustivamente as mesmas mecânicas coisas, sem improvisos pré-determinados, sem dada criatividade contextual (de jogo para jogo, de adversário para adversário) resolve os problemas impostos pelo jogo? Claro que não.
Por fim, a monotonia gera comodismo “até para os supostos melhores”, ainda mais se for uma monotonia robótica e manjada.
Por isso acreditamos que a variabilidade domina o futebol, e o treinamento com variabilidade deve ser o "carro chefe" nas metodologias. Uma forma de jogar balizada por uma matriz com variáveis deverá sempre estar nos planos de treinamento  para um bom futebol.
E quem deve dominar o treinamento do Futebol é a Periodização Tática. Ela nos garante o domínio dinâmico-complexo-variável-contextual, e ponto final (até rimou). Não adianta "acharmos" que iremos dominar partidas e vencê-las, se não dominamos o treinamento da semana seguinte. 
É uma questão complexa, mas o que é isso mesmo?

“Jogar é mais que controlar sem variar e sem respeitar a essência do jogo”.

Abraços

Rodrigo Vicenzi Casarin
Dênis de Lima Greboggy

Entrem em contato conosco postando aqui suas indagações. Serão bem aceitas, e no possível respondidas.




6 comentários:

  1. Boa noite professores;

    Parabéns pelo texto.

    Pois este é um assunto interessante, e vou interpreta-lo da seguinte forma:

    Até mesmo pessoas que buscam na Periodizaão Tática a sua matriz metodológica costumam entrar numa espécie de mecanismo-mecânico comportamental.

    Ou seja, todo mundo faz a mesma coisa, por exemplo: Temos a bola, todos jogam em 1 ou 2 toques, de uma forma coletiva até, com boa manutenção da posse, porém, de certa forma linear, mesmo que com trocas de ritmo e direção da bola, todos jogam da mesma forma.

    Em nome de um grande princípio acabamos muitas vezes tornando nossos jogadores cópias de alguma coisa, muitas vezes negando o que realmente tem de melhor, negliganciando a sua individualidade.

    Digo isso por verificar, e direciono isso mais a formação, e mais ainda a quem tem noções metodológicas realmente ( pois por incrível que pareça, treinadores sem noções metodológicas, pelo fenômeno da auto-organização, acabam por desenvolver o potencial individual de seus jogadores, sem esta noção, exatamente pela falta de intervenção coerente,juntamente com uma mistura de acontecimentos anteriores na vida do atleta, que acabam por direcionar a formação do jogador, mas sem grande ajuda do treinador em muitos casos) do que a equipes profissionais, já que treinadores com boas noções sobre modelo de jogo e suas particularidades, acabam muitas vezes em nome do coletivo, matando a individualidade do jogador.

    Este para mim é um desafio, intervir sobre o coletivo e o individual ao mesmo tempo, utilizando o potencial "real" do jogador, em prol da equipe, juntamente com os grandes princípios que irão gerir o jogo da mesma.

    Vejo as equipes dó Mourinho por exemplo, em que os jogadores embora centrem seu jogo num coletivo muito forte, em termos de atitude, porém com características muito particulares, por exemplo, Khedira com a bola possui um jogo mais curto, inclusive até mais vertical, mas curto, já o Alonso, com a bola, tem um jogo mais longo, mais diagonal, e para complementar esta caracteristica forte de batida na bola altamente qualificada, existe um jogador de extremidade, que por sua vez é ótimo no 1x1, veloz, e se verificar-mos o jogo dessa equipe, entre outras de rendimento superior veremos esta articulação de caracteristicas com um único sentido, buscar o gol.

    Na base acredito que deveria ser igual, muitas vezes temos ótimos jogadores no que diz respeito ao 1x1 ofensivo, agudos, e os obrigamos em treino e jogo a jogar em dois toques, ou um toque, delimitando e castrando as caracteristicas do jogador exatamente no local da nascente.

    Isso em nome da equipe, em nome do treinador, que exatamente pelo coletivo, terá seu percentual de sucesso quando ganhar um jogo um uma competição.

    Então professores, cabe a nós, dentro da nossa capacidade de percepção de talentos, situa-los de uma forma a que possam realmente potencializar seus pontos fortes, pois o que torna um jogador diferente do outro, é exatamente o que ele sabe fazer. Imagine um Cristiano Ronaldo, um Messi, um Ronaldo dando apenas dois toques na bola?

    Grande abraço
    Luis Esteves
    la_futeboll@hotmail.com
    www.organizacaodejogo.blogspot.com

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  2. Fala Esteves, obrigado pela participação!

    Na periodização tática é possível (sem perceber, percebendo ou querendo) mecanizar mecanicamente. Depende muito de quem está por trás. Mas será que quem se diz “defensor" da PT e operacionaliza para mecanizar, sabe mesmo da sua essência dinâmica-aberta.

    Está claro que o “metodológico, ou a lógica do morfociclo” gera um dinamismo-dinâmico e uma alternância que permeia toda essa questão do controle sem controlar mecanicamente. Agora “o concepto, ou as ideias do jogar”, se demasiadamente fechadas e estaques, enconderá toda lógica complexa e dinâmica do "metodológico". Se ambas as dimensões não estiverem inter-conectadas pela complexidade, aparentemente pode parecer Perodização Tática, mas na verdade está mais para uma periodização...pática...

    Para uma equipe estar a top, a mesma deve possuir critérios coletivos de “associação ou casamento” entre os jogadores. E esses "casamentos" primeiramente devem respeitar todo o critério coletivo estabelecido, mas também a singularidade de cada jogador e o contexto de oposição e problemas que o jogo solicita. Então, se o coletivo estiver no individual e o individual estiver no coletivo e essa inter-relação for complexa, aberta e possuir critérios, a possibilidade da equipe estar a top e aflorar o individual e a variabilidade nas ações é grande.

    Quanto tu falas em auto-organização intencional mecânica e liberta em excesso, tu tens razão ao afirmar que “formatam-se os jogadores”, como dois toques... e ações estritamente isoladas. Supostamente os gradiosos treinadores que "supostamente" estudaram a PT e não sei mais o que, enrijecem suas equipes e jogadores, e os “treinadores da anarquia” conseguem formar jogadores e as "vezes" equipes com graus de liberdade maiores, mas com o tempo acabam se "esfacelando", pois toda desordem não dura por muito tempo. Mas é uma boa questão para refletirmos!

    Bem..penso que a periodização tática não tem nada a ver com nenhuma das duas situações acima. E esse é o grande desafio de “quem quer estar na PT”. Conseguir controlar sem controlar, sem mecanizar e sem podar a singularidade de nenhum contexto coletivo ou individual. Agora, de que maneira?

    A SUA, A NOSSA E A PERIODIZAÇÃO DO PROF. FRADE TEM UMA LÓGICA BEM EXPLÍCITA, MAS NUNCA ESTÁ ACABADA!

    ABRAÇOS

    RODRIGO VICENZI CASARIN

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  3. Olá, daqui é o Álvaro, de Portugal!

    Decidi ir ao apelo e realizar aqui um comentário:

    Gostaria que me explicasse o termo do domínio ser dinâmico-complexo-variável-contextual. Eu sei que lendo o texto percebemos isso, e que essa noção vai de encontro com o resto do artigo, mas mesmo assim gostaria que me explicassem este termo.

    Aproveito também para colocar duas questões ao porf. Esteves, devido ao seu comentário:
    - pela experiência que tenho, penso que por vezes pode existir um aspecto ou outro um bocado mecanizado (por exemplo, na nossa equipa de benjamins de futebol de 7, a instrução que damos muitas vezes ao médio centro é receber de um ala e virar para outro)
    - percebo e concordo perfeitamente com o seu ponto de vista relativamente ás limitações possíveis devido ao coletivo. Mas, pegando no exemplo de 2 toques, acha que é justo ser para todos 2 toques e para um ou 2 jogadores livre de toques? Jogadores são todos diferentes, excepções devem ser tratadas como excepções, mas isso tem os seus limites, além de que os jogadores que não são excepções não iriam perceber isso.

    Agradeço pelo fantástico artigo!

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  4. Olá Alvaro, tudo bem?

    Agradecemos seu comentário. É muito importante para nós. Bem,...vamo lá.

    Sumariamente, esse termo refere-se a um princípio simples do futebol, que é sua variabilidade e a capacidade dos jogadores se adaptarem a essas variabilidades. Por exemplo, o Barcelona não consegue se adaptar para, por exemplo, destruir uma transição defesa-ataque veloz e vertical. Porque possivelmente nao treinam essa variante. Eles dificilmente se organizam defensivamente, acabam utilizando sempre a pressão alta em bloco, mais quando são pressionados, e são obrigados a usar bolas longas, não o sabem fazer, porque o modelo e a filosofia do clube é apenas toque curtos e jogar entre linhas.
    Veja o Real Madrid, por exemplo, eles possuem dois estilos de transição, e utilizam de acordo com o contexto do jogo.

    Sua questão ao Esteves é totalmente pertinente. Não podemos eliminar a essência de cada jogador só por causa de um modelo de jogo, ou por questões filosóficas. Por isso é que o modelo de jogo é de suma importancia. E deve sempre ser inacabado, acabado no sentido de estar aberto e pronto para resolver os problemas de jogo para jogo.
    No seu exemplo do futebol 7, penso que a instrução é que haja a recepção da bola e o toque para o outro lado. E não está errado.,Mais caso haja a oportunidade do jogador partir com a bola conduzindo e ter um campo livre pela frente, deverá fazer isso para ganhar espaço no campo adversário.
    O mais importante é que caso o jogador utilize o modelo de jogo e naã consiga obter resultados (fazer o gol), há a necessidade de um improviso consciente. Um saber sobre um saber fazer. E isso só acontece com muito treinamento e um modelo de jogo sempre em construção, com jogadores que compreendam essa maneira de pensar, que é um mecanizar não mecanizado.

    Grande abraço


    Dênis

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  5. EXCELENTE seu texto !
    E você foi muito feliz quando disse: ´´Mecanizar ações é uma completa bobagem. Mesmo que possa existir uma filosofia, a flexibilidade também deve andar junto, para que o jogo possa ser controlado``. Aproveito sua afirmativa para dizer que observamos muito disso nos treinamentos específicos paras os goleiros. Percebemos uma metodologia que levam os goleiros à movimentos ROBÓTICOS. Estão condicionando os goleiros à responder apenas aos frenquentes e precisos estímulos recebidos durante seus treinamentos. Os goleiros são tolidos e até ´´proibidos`` de apresentar novas respostas, em prol de uma ´´verdade`` biomecânica. São proibidos de usarem da CRIATIVIDADE na descobertas de novas formas de defesa. E o que é muito triste: a constatação de que observamos isso nas divisões de base, nas categorias pré-mirim, mirim e infantil. A PSICOMOTRICIDADE PASSE LONGE NA METODOLOGIA DE ALGUNS TREINADORES !
    Parabéns !
    Rommel Oliveira
    CREF 11478 G/RJ
    Preparador de goleiros
    Nova Iguaçu FC

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  6. Obrigado pela participação Rommel. É de pessoas iguais a você que o futebol brasileiro precisa.
    Realmente o goleiro tem que defender, como todos os meios que possui.

    Grande abraço

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