06 dezembro 2013

SABER DOSAR PARA UM MELHOR JOGAR



Dênis de Lima Greboggy

Rodrigo Vicenzi Casarin

            Dentro do futebol temos várias dimensões abarcantes que devem ser levadas em consideração para que os jogadores não fiquem estritamente robóticos, neuróticos e atrelados em pretextos não cabíveis nos dias atuais. Aspectos que não dosados adequadamente, sobrecarregam os jogadores, misturando e marcando negativamente significados e emoções sob o risco de descaracterizar a equipe e o jogar.

            Dosar significa medir com cautela alguma dimensão do processo, o que está sendo feito, o que está sendo observado e o que está sendo aplicado. Nossas ações dentro do futebol devem sempre partir de um dosar, para que nada seja exagerado e tão pouco singelo. Um meio termo contextual, específico e singular. Isso nos remete à fazermos uma pergunta, como é de praxe em nossos manuscritos: O que dosar?; Como dosar? Por que dosar? Bom, são demasiadas as perguntas a respeito deste tema que podemos fazer e ficarmos horas a escrever.

            O que dosar seria, dentre várias dimensões, a modificação do contexto, a progressão dos princípios de jogo, os exercícios a serem aplicados, os minutos, as repetições, a fadiga complexa (central/periférica), horários de treinamento, possíveis concentrações antes de jogos, liberação de jogadores para saírem em grupos, tempo com a família, uso de bebida, cigarro, alimentação e etc. Enfim, todos os fatores dentro e fora do campo que perfazem o modelo de jogo do treinador, o contexto, a cultura, os costumes.

            Ao modelarmos um contexto, temos que ter muita sensibilidade e compreendermos tal complexidade deste processo. Algumas vezes ficamos obcecados por implantar algumas ideias e alguns treinamentos que fogem daquele determinado momento e acabamos colocando doses acima da recepção ideal e sadia para os jogadores. Isso aos poucos vai gerando uma desconfiança, que pode fazer com que os jogadores não acreditem no que se está fazendo. Por isso a dosagem do que é feito e do que pode ser feito é um dos requisitos principais. A modificação brusca e o excesso de algumas coisas serão sempre ser prejudiciais

            Um exemplo aqui no Brasil tem dado o que falar: a tal da concentração. Existem treinadores que não abrem mão disso. E será que isso é um fator tão importante assim, a ponto de não se deixar jogadores passarem horas a mais com filhos, esposa e amigos? Isso exige um olhar muito aguçado do treinador e de sua comissão, para que nada seja para mais ou para menos. O fator “como dosar” depende primeiramente das estratégias criadas para se lidar com questões que corriqueiramente fogem do contexto tradicional. O clube Botafogo foi um bom exemplo, onde seus jogadores decidiram não fazer a tal concentração em forma de reivindicar salários atrasados. A nosso ver, como somos contra esse tipo de concentração, isso é de extrema importância para a vida extra campo dos jogadores. E ao final das contas o Botafogo está apresentando um futebol igual os demais “concentrados”. Será isso devido à divina proporção aplicada ao quesito concentração pelo treinador do Botafogo? Não precisamos responder. Portanto, o como, depende de conversar, ordenar, exercer liderança e autoridade.

            O motivo de dosar nos remete à questão de modelação do elenco ao que de melhor se pode fazer para ajudar, mas fazer de forma diferente da norma brasileira no caso. Isso é modelação, mais não uma modelação estanque, e sim uma modelação complexa, que envolve coisas que para muitos são superficiais e não importantes.

Liderar é convencer com argumentos o porquê de algo ser realizado e os demais compreenderem sem serem forçados. Um exemplo do porque é o convencimento da importância que tal decisão se coloca em discussão, em prol de grupo de jogadores e principalmente em prol do clube, de uma instituição. Existem momentos em que os porquês devem ser ocultados ou justificados posteriormente, devido à capacidade de tais jogadores entenderem tais decisões. Isso nos lembra o motivo de José Mourinho sempre querer jogadores que sejam de pensamento aberto, questionadores e formadores de opinião, pois isso auxilia o processo de tomada de decisão do treinador e fomenta a formação de lideres dentro de campo. 

               Nada deve ser feito pelo poder. É idêntico às relações de trabalho dentro de uma empresa. Se temos líderes que nos ajudam e nos motivam, as coisas tendem a andar da melhor forma possível. Os jogadores ficam felizes e com alegria desenvolvem um jogar em prol sempre do clube e do grupo em que pertencem. Isso para nós é dosar, é perceber a devida com a divina proporção.




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