Rodrigo Vicenzi Casarin
Dênis de Lima Greboggy
Algumas
pessoas se satisfazem com o que já sabem, é como se seu conhecimento coubesse
numa piscina. Dão algumas braçadas para um lado, outras braçadas para o outro,
agarram-se às bordas e tocam o fundo com os pés: sentem-se seguras nessa amplitude
restrita. Mas nada como mergulhar num mar do conhecimento sem fim, onde não há
limites, a profundidade é oceânica e a ideia é nadar sem chegar à terra firme,
simplesmente manter-se em movimento. Cansa, mas também revitaliza. Uma pena que
nossa preguiça impeça a grandeza de se descobrir algo novo todos os dias.
- Martha Medeiros
Qual
será o nosso futuro? Nas areias seguras e criativas de um bom conhecimento da
raiz do que queremos desenvolver, juntamente com o contexto que estamos
inseridos, ou nas areias movediças dos modismos abstratos gerados por
informações que não se perpetuam em conhecimento e sabedoria?
- Rodrigo Vicenzi Casarin
Estar no futebol a
treinar e a jogar nos remete acompanhar novas tendências e novos ensinamentos
para a prática operacional do processo de treino-competição para que consigamos
progredir neste desporto apaixonante. Aqui no Brasil tivemos longos anos
bloqueados por serviços únicos que foram taxados de “absoluta excelência”.
Obviamente, excelência esta que rendeu muito dinheiro aos treinadores de
atletismo atuantes no futebol. Tais serviços foram buscados na sua grande
maioria em terrenos do “Leste Europeu”, referenciados de profissionais que
visualizavam no futebol um meio de promoção pessoal e o dissecavam inteiramente,
fugindo de sua essência dinâmico-complexa. Nesse “meio indigesto” fora
implantada uma filosofia de treino estritamente física, acabando e enrijecendo
nosso futebol que um dia foi idolatrado por sua “estética de jogo”.
Com os métodos de
treino importados de esportes cíclicos e sem uma evolução organizacional de
jogo, nosso futebol nos últimos anos ficou numa corda bamba, sem saber para que
lado pender. Treinava-se atletismo, musculação, natação, futebol de areia. Só
não se treinava mesmo o futebol de verdade. Que paradoxo.!
Dentro da incontestável
realidade, ficamos nas páginas rasgadas e obsoletas de um futebol pragmático e
estritamente físico, onde cada vez se pensava menos, se contava e calculava
mais (cargas e cargas de treinamento). Percebendo isso, começou-se a avaliar tal
realidade e receber novas fontes de informação advindas da “globalização da
bola”. Muito disso se passou e passa pela acessibilidade de novos recursos
tecnológicos e intercâmbios de maiores profissionais com outros contextos de
treino e de jogo. Opa! Até que enfim começamos a perceber que estávamos ficando
“no túnel do tempo da bola”, e só através dessa busca por novas informações é. Até
que enfim, começamos a evoluir um pouco.
O que ainda tem nos
preocupado é o “excesso de informações frívolas”. Por isso limitar-se a apenas
algumas alterações, sem um sentido maior de alterar e reformular profundamente
o futebol pode gerar uma evolução abstrata. E disso constatamos que tal
situação gerou um novo paradigma em nosso futebol: o paradigma dos modismos.
Como “corvo na
carniça”, de um tempo prá cá, todos começaram a falar das mais variadas formas
de encarar o treinamento e as concepções de jogo. As mais faladas e citadas se
chamam Periodização Tática (PT) e Barcelona. É só vermos no facebook e nas entrevistas de
treinadores e tais doutores do futebol escritores de sites famosos. Mas isso é
bom?
A PT e uma metodologia
de treino que tem como objetivo a operacionalização de uma forma de jogar
balizada por princípios metodológicos singulares e uma concepção de jogo (a do
contexto, do treinador, dos jogadores) que demonstra um novo futebol, que
valoriza conceitos de um futebol vistoso, sincronizado, que valoriza a bola, o
jogo posicional, a forte pressão após perdida da bola. Muito bom, um casal
perfeito. Mas será que todos que falam conhecem profundamente da sua (a PT)
essência e consciência?
Começamos a perceber
que os que mais falam da PT são os que nem conhecem os princípios metodológicos,
e os falantes do Barcelona são os que não têm noção do jogo posicional e nisso
acabam reduzindo o treino a treinar jogando e o jogar através da posse de bola,
ou apenas de tê-la. O pior é ler aleatoriamente comentários, debates e até
mesmo palestras com conteúdos que fogem da PT. O fato de participar de um grupo
do facebook, ler um livro em .pdf ou outros,
garante a noção do que se está a fazer? Inovação? Gritar e pedir posse de bola
sem fazer o jogador sentir, garante tal noção? Sabe-se inovar sem dominar e
entender um contexto? Por mais que quase todos consumam dos instrumentos
supostos para pensar, a maioria não sabe usá-los e é incapaz de fugas do
clichê, do chavão, das frases e dos conceitos prontos. Nossa sociedade da bola é
imbatível. Ô se é!
O treino tradicional
deixou e ainda deixa uma grande marca em nosso futebol. Os novos modismos
também estão começando a deixar, só há de termos cuidado. Estamos convencidos
cada vez mais que: os modismos possuem uma dupla face: a face superficial, a face
da modinha, onde que todos falam inoperantes de informações, estilo “telefone
sem fio”, e a face profunda, localizada na fonte, no local onde a moda começou,
ou seja, na essência. Preferimos a segunda moda, é claro. Espera-se que seja esta
que influencie positivamente nossa sociedade futebolística, e que construa
vários “futebóis” que balize o nosso grande futebol brasileiro, com ideias,
identidade e especialmente uma cultura de jogo. Para isso, precisamos de muito estudo
e entendimento, especialmente para eliminar as antigas ideias e perpetuar e
balizar as novas. A superficialidade é um tema que deve ser encarado. Por isso,
saber fazer é diferente de um saber sobre um saber fazer. As ideias novas
precisam fazer o organismo sentir “a flor da pele”.
As orelhas do Frade e
do Guardiola estão quentes todos os dias, mas eles sabem que poucos sabem na
raiz da essência e da coragem, e muitos também podem saber, é só querer!
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