17 agosto 2013

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DE UM PASSADO DORMENTE E DE UM FUTURO DECADENTE



Rodrigo Vicenzi Casarin
Dênis de Lima Greboggy

Algumas pessoas se satisfazem com o que já sabem, é como se seu conhecimento coubesse numa piscina. Dão algumas braçadas para um lado, outras braçadas para o outro, agarram-se às bordas e tocam o fundo com os pés: sentem-se seguras nessa amplitude restrita. Mas nada como mergulhar num mar do conhecimento sem fim, onde não há limites, a profundidade é oceânica e a ideia é nadar sem chegar à terra firme, simplesmente manter-se em movimento. Cansa, mas também revitaliza. Uma pena que nossa preguiça impeça a grandeza de se descobrir algo novo todos os dias.
- Martha Medeiros
Qual será o nosso futuro? Nas areias seguras e criativas de um bom conhecimento da raiz do que queremos desenvolver, juntamente com o contexto que estamos inseridos, ou nas areias movediças dos modismos abstratos gerados por informações que não se perpetuam em conhecimento e sabedoria?

- Rodrigo Vicenzi Casarin

Estar no futebol a treinar e a jogar nos remete acompanhar novas tendências e novos ensinamentos para a prática operacional do processo de treino-competição para que consigamos progredir neste desporto apaixonante. Aqui no Brasil tivemos longos anos bloqueados por serviços únicos que foram taxados de “absoluta excelência”. Obviamente, excelência esta que rendeu muito dinheiro aos treinadores de atletismo atuantes no futebol. Tais serviços foram buscados na sua grande maioria em terrenos do “Leste Europeu”, referenciados de profissionais que visualizavam no futebol um meio de promoção pessoal e o dissecavam inteiramente, fugindo de sua essência dinâmico-complexa. Nesse “meio indigesto” fora implantada uma filosofia de treino estritamente física, acabando e enrijecendo nosso futebol que um dia foi idolatrado por sua “estética de jogo”.
Com os métodos de treino importados de esportes cíclicos e sem uma evolução organizacional de jogo, nosso futebol nos últimos anos ficou numa corda bamba, sem saber para que lado pender. Treinava-se atletismo, musculação, natação, futebol de areia. Só não se treinava mesmo o futebol de verdade. Que paradoxo.!
Dentro da incontestável realidade, ficamos nas páginas rasgadas e obsoletas de um futebol pragmático e estritamente físico, onde cada vez se pensava menos, se contava e calculava mais (cargas e cargas de treinamento). Percebendo isso, começou-se a avaliar tal realidade e receber novas fontes de informação advindas da “globalização da bola”. Muito disso se passou e passa pela acessibilidade de novos recursos tecnológicos e intercâmbios de maiores profissionais com outros contextos de treino e de jogo. Opa! Até que enfim começamos a perceber que estávamos ficando “no túnel do tempo da bola”, e só através dessa busca por novas informações é. Até que enfim, começamos a evoluir um pouco.
O que ainda tem nos preocupado é o “excesso de informações frívolas”. Por isso limitar-se a apenas algumas alterações, sem um sentido maior de alterar e reformular profundamente o futebol pode gerar uma evolução abstrata. E disso constatamos que tal situação gerou um novo paradigma em nosso futebol: o paradigma dos modismos.
Como “corvo na carniça”, de um tempo prá cá, todos começaram a falar das mais variadas formas de encarar o treinamento e as concepções de jogo. As mais faladas e citadas se chamam Periodização Tática (PT) e Barcelona. É só vermos no facebook e nas entrevistas de treinadores e tais doutores do futebol escritores de sites famosos. Mas isso é bom?
A PT e uma metodologia de treino que tem como objetivo a operacionalização de uma forma de jogar balizada por princípios metodológicos singulares e uma concepção de jogo (a do contexto, do treinador, dos jogadores) que demonstra um novo futebol, que valoriza conceitos de um futebol vistoso, sincronizado, que valoriza a bola, o jogo posicional, a forte pressão após perdida da bola. Muito bom, um casal perfeito. Mas será que todos que falam conhecem profundamente da sua (a PT) essência e consciência?
Começamos a perceber que os que mais falam da PT são os que nem conhecem os princípios metodológicos, e os falantes do Barcelona são os que não têm noção do jogo posicional e nisso acabam reduzindo o treino a treinar jogando e o jogar através da posse de bola, ou apenas de tê-la. O pior é ler aleatoriamente comentários, debates e até mesmo palestras com conteúdos que fogem da PT. O fato de participar de um grupo do facebook, ler um livro em .pdf ou outros, garante a noção do que se está a fazer? Inovação? Gritar e pedir posse de bola sem fazer o jogador sentir, garante tal noção? Sabe-se inovar sem dominar e entender um contexto? Por mais que quase todos consumam dos instrumentos supostos para pensar, a maioria não sabe usá-los e é incapaz de fugas do clichê, do chavão, das frases e dos conceitos prontos. Nossa sociedade da bola é imbatível. Ô se é!
O treino tradicional deixou e ainda deixa uma grande marca em nosso futebol. Os novos modismos também estão começando a deixar, só há de termos cuidado. Estamos convencidos cada vez mais que: os modismos possuem uma dupla face: a face superficial, a face da modinha, onde que todos falam inoperantes de informações, estilo “telefone sem fio”, e a face profunda, localizada na fonte, no local onde a moda começou, ou seja, na essência. Preferimos a segunda moda, é claro. Espera-se que seja esta que influencie positivamente nossa sociedade futebolística, e que construa vários “futebóis” que balize o nosso grande futebol brasileiro, com ideias, identidade e especialmente uma cultura de jogo. Para isso, precisamos de muito estudo e entendimento, especialmente para eliminar as antigas ideias e perpetuar e balizar as novas. A superficialidade é um tema que deve ser encarado. Por isso, saber fazer é diferente de um saber sobre um saber fazer. As ideias novas precisam fazer o organismo sentir “a flor da pele”.
As orelhas do Frade e do Guardiola estão quentes todos os dias, mas eles sabem que poucos sabem na raiz da essência e da coragem, e muitos também podem saber, é só querer!

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