08 outubro 2011

Entrevista ao Professor Rui Faria (na época Treinador adjunto da Inter de Milão)


Pergunta de Carlos Campos: Admite como potencialmente importantes para a consecução do Modelo de Jogo outras coisas que não a repetição sistemática em especificidade dos Princípios de Jogo, isto tendo em conta a sua vasta experiência a top? (musculação, personal-training, piscina...)

Resposta de Rui Faria: Eu não vejo outra possibilidade que não seja essa repetição sistemática em especificidade dos Princípios de Jogo porque é FUNDAMENTAL perceber que a organização e o sucesso quanto mais organizada for a equipa, mais probabilidade de sucesso haverá. Numa época extremamente competitiva onde por vezes a falta de tempo para treinar obriga-nos a fazê-lo numa supra-especificidade relativamente ao Modelo, a única preocupação que temos é treinar comportamentos de jogo, e treinar princípios, e atender ao lado estratégico em função do adversário numa perspectiva de antecipar o que vai acontecer no próximo jogo, corrigir comportamentos do jogo anterior, ou seja, temos que rentabilizar ao máximo o tempo que temos para treinar, para potenciar ao máximo o padrão comportamental que queremos, e não pensamos em mais nada!

Pergunta de Carlos Campos: Mas estando a top, onde qualquer detalhe é decisivo, não sente necessidade de uma individualização do treino com recurso a maquinas de musculação, piscina, personal-training... Insisto nisto porque somos confrontados diversas vezes, mesmo dentro da nossa Faculdade, com o fato de vocês no Chelsea, utilizarem este tipo de recursos? Confirma isso? Em que moldes o faz?

Resposta de Rui Faria: Só por idiotice e falta de rigor cientifico se pode afirmar uma coisa dessas porque a necessidade em termos de evolução do jogo é de tal ordem que não temos tempo para pensar nesse tipo de particularizações e nessas questões. A nossa perspectiva de trabalho não fomenta isso porque não acredita que isso se possa privilegiar em termos de rendimento e como o que nos queremos é rendimento e isso passa por organização, é de uma extrema idiotice por em causa ou dizer-se e eu não sei onde se foi buscar essa ideia que temos personal-trainers ou fazemos musculação. É uma falta de rigor cientifico enorme fazerem-se comentários desse gênero, pois quando nós não temos tempo para treinar aquilo que é fundamental para nós, quanto mais para treinar coisas que não fazem parte da nossa forma de pensar o treino, portanto, elas não fazem parte da nossa natureza mesmo que tivéssemos tempo, e que fique bem claro que, elas não existem na nossa forma de treinar! Volto a repetir que só por idiotice e por falta de rigor cientifico é que as pessoas podem dizer que nós tinhamos personal-training ou que fazíamos treinos na piscina! Alias queria-te pedir para que, quando fosses novamente confrontado com essas afirmações, convidasses essas pessoas a fazer um estagio conosco para saber qual é a nossa realidade e para terem maior rigor quando fazem esse tipo de observações. Nós não temos que provar nada para ninguém nem temos necessidade de dizer que fazemos coisas que depois na realidade não fazemos, portanto até me da vontade de rir quando me dizes que ouves isso. O principal responsável era o treinador e em seguida era eu, e como segundo responsável da estrutura técnica afirmo que é ridículo pessoas dizerem que fazemos um determinado tipo de coisas que na realidade não fazemos! Quem não acreditar pode vir observar e constatar o que estou a dizer.
É fácil perceber que durante um processo de reabilitação médica, existam jogadores que tenham, pela forma como o departamento médico se organiza, responsáveis pelo seu processo de reabilitação, de superação da lesão, e estes jogadores eram entregues para elementos do departamento médico que tinham em determinadas horas o cuidado de tratar deles e atividades para fazer com os jogadores sendo que ai sim, utilizavam os meios que eles consideravam serem importantes para a sua recuperação, mas aqui os jogadores não estavam a trabalhar no terreno, não estavam entregues a equipa técnica, pois estamos a falar do processo de recuperação onde iam ao ginásio, faziam hidroginástica mas numa perspectiva de recuperação funcional e biomecânica.
A partir do momento em que os jogadores estavam recuperados funcionalmente e voltavam para o terreno, todo o trabalho era progressivamente especifico em termos de modalidade e Modelo de Jogo. Não temos necessidade de provar nada para ninguém, até pelo trajeto que temos feito, nem temos necessidade de dizer que fazemos uma coisa e fazermos outra só porque nós nos lembramos de dizer que somos diferentes. Nós somos efetivamente diferentes, e para as pessoas que não conseguem perceber essa realidade, é mais fácil dizer que nos somos iguais a eles do que dizerem que trabalhamos duma forma diferente porque nos sabemos como eles treinam, mas eles desconhecem completamente nossa forma de operacionalizar o treino.

Trecho retirado da Monografia de Licenciatura em Educação Física do professor Carlos Campos em entrevista ao professor Rui Faria, treinador adjunto de José Mourinho, atualmente no Real Madrid.

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