Dênis de Lima Greboggy
Depois que a seleção
nacional levou um “baile” da Alemanha, muitos pseudo-especialistas inflamaram o
povo brasileiro pelas mídias, televisão, rádio e etc. no sentido de drásticas
mudanças do formato de jogo do futebol brasileiro, hábitos, ações,
treinamentos, e por aí foi, e vai. Abaixo estão trechos de um interessante
livro, de Ralph Linton (1965), onde se podem levantar questionamentos sobre as possíveis
ou não mudanças. O livro se chama: O Homem, uma introdução à Antropologia:
(...) os
indivíduos vivem principalmente pelo hábito, agindo como lhes ensinaram a agir,
sem primeiro parar para refletir.
A maior das
dificuldades encontradas em um líder que procura desenvolver uma sociedade nova
é que ele tem de começar com pessoas já anteriormente preparadas para viver em
outra sociedade. Este preparo começa ao nascer, e antes mesmo de ter alcançado
seu desenvolvimento pleno, o individuo terá adquirido uma massa de hábitos inconscientes
adaptados à sociedade em que se criou. Pode ser que estes hábitos se
modifiquem, como quando um indivíduo vai viver numa nova sociedade e
gradativamente se incorpora a ela, mas é quase impossível modificá-los, a não
ser que a nova sociedade ofereça padrões de comportamento que o recém-vindo
possa aprender direta e objetivamente. Quando a nova sociedade não possui tais
padrões, cada indivíduo precisa, toda vez que tiver de agir, deter-se e pensar.
Ainda mais: o que um indivíduo decide que é conveniente, relativamente à idéias
e valores básicos da nova sociedade, talvez não concorde com o que outro
indivíduo pensa ser conveniente. O resultado é uma infindável confusão e uma
interferência involuntária, e as pessoas que estão tentando desenvolver a nova
sociedade logo recaem nos seus antigos hábitos.
(...) os únicos
casos em que as novas formas de sociedade se estabelecem vitoriosamente tem
sido aqueles em que o plano encerra um corpo considerável de regras concretas
de comportamento.
O autor trata,
obviamente, dos hábitos que uma sociedade em termos complexos pode modificar. Porém
o futebol, sendo um fenômeno antropo-social, inclui-se neste caso. Ele faz
parte de uma sociedade complexa, que depende de inúmero fatores para se alterar
alguma coisa de forma significativa.
O texto é bem claro, se
os princípios são os mesmos para todos, a mudança pode ocorrer. Aqui, pode-se
destacar uma filosofia do treinador, um estudo prévio para uma intervenção, por
exemplo. A Alemanha e a Espanha, últimas campeãs do mundo, levaram jogadores
que atuavam e ainda atuam em mesmas culturas (raras exceções). Já a seleção
brasileira considera os melhores jogadores em termos de técnica individual e
destaque em seus respectivos clubes, não importando em que país se esteja.
O que ocorre com a
seleção do Brasil é que há uma miscelânea de hábitos, onde todos pensam
diferentemente, e que em situações de estresse, ansiedade, medo, os jogadores
recorreram (e recorrem) à velhos hábitos, quando os novos não estão
automatizados e vivenciados de forma concisa e intensa durante longo tempo.
Contudo, a cultura do brasileiro será, sempre, selecionar o que melhor dribla,
passa, recebe, cobra falta, faz boa defesa, sem pensar no todo complexo e
antropológico que este esporte é.
Mudança de hábito é
algo complexo, profundo e que não envolve apenas aspectos táticos, princípios de
jogo, sistemas, variações. Tem a ver com a mentalidade de um grupo, convívio,
bons costumes, respeito, disciplina, responsabilidade, autoconhecimento, entre
tantos outros. Aqui, convergimos com a opinião de Tostão:
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