07 dezembro 2014

MUDANÇA DE HÁBITO, UM PROBLEMA DE ORDEM ANTROPOLÓGICA



Dênis de Lima Greboggy


Depois que a seleção nacional levou um “baile” da Alemanha, muitos pseudo-especialistas inflamaram o povo brasileiro pelas mídias, televisão, rádio e etc. no sentido de drásticas mudanças do formato de jogo do futebol brasileiro, hábitos, ações, treinamentos, e por aí foi, e vai. Abaixo estão trechos de um interessante livro, de Ralph Linton (1965), onde se podem levantar questionamentos sobre as possíveis ou não mudanças. O livro se chama: O Homem, uma introdução à Antropologia:


(...) os indivíduos vivem principalmente pelo hábito, agindo como lhes ensinaram a agir, sem primeiro parar para refletir.

A maior das dificuldades encontradas em um líder que procura desenvolver uma sociedade nova é que ele tem de começar com pessoas já anteriormente preparadas para viver em outra sociedade. Este preparo começa ao nascer, e antes mesmo de ter alcançado seu desenvolvimento pleno, o individuo terá adquirido uma massa de hábitos inconscientes adaptados à sociedade em que se criou. Pode ser que estes hábitos se modifiquem, como quando um indivíduo vai viver numa nova sociedade e gradativamente se incorpora a ela, mas é quase impossível modificá-los, a não ser que a nova sociedade ofereça padrões de comportamento que o recém-vindo possa aprender direta e objetivamente. Quando a nova sociedade não possui tais padrões, cada indivíduo precisa, toda vez que tiver de agir, deter-se e pensar. Ainda mais: o que um indivíduo decide que é conveniente, relativamente à idéias e valores básicos da nova sociedade, talvez não concorde com o que outro indivíduo pensa ser conveniente. O resultado é uma infindável confusão e uma interferência involuntária, e as pessoas que estão tentando desenvolver a nova sociedade logo recaem nos seus antigos hábitos.

(...) os únicos casos em que as novas formas de sociedade se estabelecem vitoriosamente tem sido aqueles em que o plano encerra um corpo considerável de regras concretas de comportamento.



O autor trata, obviamente, dos hábitos que uma sociedade em termos complexos pode modificar. Porém o futebol, sendo um fenômeno antropo-social, inclui-se neste caso. Ele faz parte de uma sociedade complexa, que depende de inúmero fatores para se alterar alguma coisa de forma significativa.

O texto é bem claro, se os princípios são os mesmos para todos, a mudança pode ocorrer. Aqui, pode-se destacar uma filosofia do treinador, um estudo prévio para uma intervenção, por exemplo. A Alemanha e a Espanha, últimas campeãs do mundo, levaram jogadores que atuavam e ainda atuam em mesmas culturas (raras exceções). Já a seleção brasileira considera os melhores jogadores em termos de técnica individual e destaque em seus respectivos clubes, não importando em que país se esteja.


O que ocorre com a seleção do Brasil é que há uma miscelânea de hábitos, onde todos pensam diferentemente, e que em situações de estresse, ansiedade, medo, os jogadores recorreram (e recorrem) à velhos hábitos, quando os novos não estão automatizados e vivenciados de forma concisa e intensa durante longo tempo. Contudo, a cultura do brasileiro será, sempre, selecionar o que melhor dribla, passa, recebe, cobra falta, faz boa defesa, sem pensar no todo complexo e antropológico que este esporte é. 


Mudança de hábito é algo complexo, profundo e que não envolve apenas aspectos táticos, princípios de jogo, sistemas, variações. Tem a ver com a mentalidade de um grupo, convívio, bons costumes, respeito, disciplina, responsabilidade, autoconhecimento, entre tantos outros. Aqui, convergimos com a opinião de Tostão: 

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